quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

HOMILIA proferida pelo P. Leonel, NO DOMINGO XXXII T.C. Ano A, Capela de Fradelos, 9 de Novembro de 2008

A curiosa e interessante relação das histórias e acontecimentos da Realidade em que as fibras do nosso coração estremecem e se entrelaçam nos enredos do nosso quotidiano... A profunda relação da Realidade com os mistérios do Reino dos Céus, dá às histórias e aos acontecimentos reais um sentido que os ultrapassa, à luz do Mistério de Cristo. Há quem lhes chame metáforas, trocas de significação em virtude da relação de semelhança subentendida. Eu, pessoalmente, não gosto das leituras metafóricas usadas muitas vezes por quem não entendeu o fundo das questões. Ora, parábolas não são metáforas, mas na boca do Cristo Jesus aproximações à realidade e ao Mistério, mistério da Realidade e realidade do Mistério. Razão por que o nosso Mestre multiplica e acumula as parábolas, para que entendam os que procuram a Verdade e para que não entendam os que da Verdade não querem saber. A parábola, na boca de Jesus, é uma arma de dois gumes para que se definam os campos e as posições de cada um, nos termos da Graça e da Verdade.

Não é pequeno o descuido de quem, por estar numa festa, deixa de estar atento a si próprio e aos outros, portando-se como um louco, gente incapaz da Liberdade, gente para quem a Liberdade só serve para fazer asneiras... Não é pequena a loucura, ou leviandade, de quem não leva a Vida a sério, só porque esta vida são dois dias, ou então porque as noites dão para esconder muita coisa e para passar desapercebido, até deixar de ser reconhecido...

A Festa, a festa da Vida, é demasiado importante para não ser levada a sério. “A seriedade é o princípio da Sabedoria”, que é a fonte da alegria de viver. O que exige uma vigilância permanente. Quem perde a lucidez, põe em perigo a sua vida. Os divertidos acabam quase sempre em pervertidos. Quem, por estar ou se julgar em festa, deixa a Seriedade em casa, e a mete na gaveta, acaba em desmancha-prazeres... “Por que será, perguntou aquele mexicano ao pároco da sua aldeia, que o povo quando está feliz só faz asneiras?” Ainda há muito de pagãos nos nossos cristãos: à volta das nossas igrejas e capelas, nas nossas romarias, corre o vinho e corre o sangue... Começa-se a rir, e acaba-se a chorar. Começa-se em festa, e acaba-se em tragédia. Não estou a usar metáforas. São casos do dia, os faits divers da Realidade a mudar e a transformar, enquanto é tempo.

Um ponto firme, seguro, inalterável e definito, do evangelho de Cristo, da boa nova do Reino dos Céus: a vida é uma Festa, a festa da Vida. Mas isso, isto, exige toda a seriedade da Sabedoria, mais, muito mais que tudo o mais. Senão, acaba mal. Acaba como aqueles divertidos loucos que, quem os conhecia no trabalho e em casa, não os reconhece no meio de tantas tolices e asneiras, e tristes figuras. Há gente que não aguenta a Liberdade, gente para quem a Liberdade só serve para a perder.

O Tempo Comum está a chegar ao fim. Os dois últimos domingos do Tempo Comum, este ano, Ano A, sob as leituras de S.Mateus, são escatológicos. Sentido que já se vem verificando ao longo dos precedentes domingos. A Escatologia é a ciência da Esperança, um saber sustentado, alimentado na “dinâmica do Provisório” cujas insuficiências não desorientam quem acredita na Vida, quem ama a Vida. “Eu amo, logo vivo!” “Quem não ama está morto!” “Deixai os Mortos enterrar os seus mortos”.

Temos muito que fazer, mais que fazer do que perder o Tempo diante do Muro das Lamentações. As multidões do Evangelho voltaram em todo o lado, por toda a parte. Não vem nos jornais nem nos telejornais, a não ser a rotina dos Pagadores de Promessas que fazem de Fátima uma trapalhada… à espera de um esclarecimento histórico, quando a verdade vier ao de cima, se ainda for a tempo!...
Todos nós, apesar de muitos, somos poucos para tanto trabalho, o trabalho da Evangelização. São os trabalhos da Liberdade. Não são os trabalhos da Lei, que esses já estão feitos, e não foram nem vão mais longe, como pedagogia…

Sem comentários: