terça-feira, 13 de janeiro de 2009

HOMILIA proferida pelo P. Leonel, na novena de Natal, ano B, Capela de Fradelos, 21 de Dezembro de 2008

Natal vem de Dies Natalis, isto é, o dia do nascimento de alguém celebrado como aniversário hoje universalmente generalizado. Como festa o Natal tem originalmente tudo a ver com o Sol, a estrela que ilumina e aquece o nosso planeta, razão por que as religiões pagãs o adoravam, entre os deuses, como deus máximo. O Sol, como sabemos, tem dois nascentes, um diurno a Oriente e anual no Solstício do Inverno situado antigamente a 25 de Dezembro. Foi, sobretudo entre os Romanos, a maior festa religiosa de sempre chamada Natale Solis Invictus, Natal do Sol Invencível, festa preparada pelas Saturnais, uma novena de adoração a Saturno, autêntico carnaval nocturno de excessos, orgias, e violências, de tal ordem que foi chamada Festa dos Loucos.

Mateus e Lucas, que escreveram sobre o nascimento do Cristo Jesus, não o fizeram para agora nós, os Católicos, termos o nosso Natal, até porque em sítio nenhum nos é dada informação sobre a data do nascimento de Jesus, nosso Mestre. Por outro lado, por razões unicamente de aculturação, foi que a Igreja começou no ano 330 a celebrar o Natal de Cristo, Solis Justitiae, Sol-da-Justiça. Até porque a grande festa dos Cristãos não é, nem nunca foi, o Natal mas a Páscoa. O Advento, contrariamente ao que agora se convencionou, não prepara as festas do nascimento do Cristo Jesus. O Advento é escatológico, isto é, prepara-nos com a leitura dos Sinais-dos-Tempos para o regresso de Cristo no fim do Tempo.

As festas do Natal de Cristo preparam-se com a Novena do Natal, a única novena litúrgica que a Igreja realiza para substituir o que foi a novena de Saturno que preparava as festas do nascimento do deus Sol, o Natale Solis Invictus: Natal do Sol-Invencível que à medida que declinava, ao aproximar-se do Trópico de Capricórnio, ao sul do Equador, o Ano Velho ia morrendo e no Solstício do Inverno, a 25 de Dezembro, fazia nascer o Ano Novo.

Podemos perceber um pouco o que foi a Festa dos Loucos, ao olhar a ansiedade com que em todo o Mundo se celebra a passagem do Ano. O Natal propriamente dito, marcado com as festas do nascimento de Cristo, Natale Solis-Justitiae, o Natal de Cristo Sol-da-Justiça, ao longo destes vintes séculos provocou uma mudança dos costumes, de tal maneira que as famílias reúnem-se para a Ceia de Natal, tranquilamente, e depois participam na Missa do Galo, assim chamada porque é uma autêntica vigília. Mas mesmo assim, o Natal ainda é, algo louco: ai de quem faltar à Ceia de Natal!

E correm lágrimas ao lembrar os que já morreram. Muita gente não sabe que o costume de deixar a mesa posta toda a noite tem a ver com uma ideia ainda muito pagã: depois das pessoas se deitarem os Mortos têm a mesa à sua disposição. A aculturação do Natal de Cristo no Natal do Solstício trouxe-nos estas e muitas outras misturas…

À medida que as comunidades da Una e Santa, a Igreja católica e apostólica, semper reformanda, se forem renovando, pois têm o Futuro diante de si, é possível que os frutos da Aculturação continuem a renovar os costumes e a corrigir os velhos vícios. Mas a Graça precisa de tempo e de gente que não se conforma com as conquistas do que se convencionou chamar erradamente os bons velhos tempos…

E a aculturação da Evangelização não tem a ver só com o Natal. Tem tudo a ver com a Vida toda, o Ano todo. Os Profetas anunciavam Quem não conheciam. Os Apóstolos, de todos os tempos, testemunham Aquele que conhecem e que esperam a todas as horas marcadas pela Última Hora: Aquele em quem acreditamos, amamos e esperamos, é Este. Não é outro. Este que foi menino, o Menino, e que como nós nunca mais é menino. Só se é menino uma vez na Vida. Sabemos hoje, cientificamente, que tudo é singular, o Universo, a Vida, o Homem. Já o sabíamos pelo Evangelho, só que andávamos esquecidos…

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