Maia - Hélder Ribeiro - Refundar e Abrir uma Nova Esperança
da Comissão Política Concelhia da Maia do Partido Socialista - 2010.2012
Vamos repetir o mesmo erro, agora muito mais grave, como diz o Apóstolo, que os nossos pais, os filhos de Israel, cometeram diante do Rochedo? Apesar de haver sido em figura, e a realização apenas confirmada em Promessa, em aliança anunciadora de uma outra aliança, Nova Aliança, e já na Lei haver aquela pedagogia que devia conduzir o Povo até à chegada do Cristo, “tudo o que aconteceu aos nossos pais, os filhos de Israel, aconteceu-lhes e foi escrito para nossa instrução”. Sim, para nossa instrução, razão por que na sequência das leituras sempre começamos pelos livros do Antigo Testamento, nós que somos povo do Novo Testamento, “nós que tocamos o fim dos Tempos”.
Porque, apesar de ser em figura, e a realização só vir depois, “o Rochedo era o Cristo”, o Rochedo ferido na Cruz donde brotou, com grande espanto de quem viu e testemunhou... donde brotou Sangue e Água, a Água Viva como de uma fonte.
Num mar de símbolos se diz o Espírito Santo, a Santa Inspiração derramada em nosso coração, a Fonte aberta dentro de nós, a Fonte que nos sacia a Sede insaciável, a Fonte que jorra para a Vida Eterna, a Fonte que dentro de nós nos purifica permanentemente e que dá a cada Cristão, que é outro-Cristo, aquela auto-suficiência que o faz sobre-viver nas piores condições. Razão por que nenhum discípulo de Cristo pode, hoje, desculpar-se com os tempos maus ou com a mediocridade da sua Comunidade... Os Leigos não podem desculpar-se com os Padres, nem estes podem justificar as suas faltas de empenhamento com a apatia, a indiferença e o tédio que devora, como um cancro, as nossas paróquias, até porque isso, que foi o estado-das-Almas nos séculos XVIII e XIX e princípios do século XX, agora já não é verdade: hoje, nos dias que correm, Bernanos teria escrito um outro, muito diferente, Diário de um Pároco de Aldeia, depois do último Concílio Ecuménico.
O Regresso às Fontes renovou as Igrejas de lés a lés, imparável renovação que virou as costas definitivamente ao 2ºMilénio dos nossos descontentamentos, o milénio-da-Crise que no século XX se tornou de-todas-as-Crises... Deixemos para trás os enjoados, os revoltados, ou...os cães raivosos que nos oferecem cisternas rachadas, cisternas vazias, que nos desesperam a Sede e nos enganam a Fome.
É verdade que o ajuste- de-contas ainda não acabou, está longe de acabar. Durante muito, muito tempo ainda, o deve e o haver da Igreja nas suas relações com o Século, relações da Economia da Salvação, nos vai ocupar, e preocupar, tantas vezes ainda nos tirará o sono e assombrará os nossos Nocturnos. Mas é diante de Cristo que a Igreja se justificará: “Tiveste 5 maridos e...” E agora o que tens é o teu Marido, o teu verdadeiro Esposo? Igreja, minha mãe, deixaste definitivamente os teus amantes, tal como a Samaria, que se converteu a Cristo, deixou os 5 ídolos de Baal, Belzebu, o deus-das-Moscas?
É verdade que os teus Bispos já deixaram o tabuleiro do Xadrez, e os que não deixaram estão a ser chutados, assim como os teus Doutores estão a voltar para o Povo... Mas por vezes, entre nós, entre os Portugueses, pareces, Igreja minha mãe, ainda ter saudades dos Teres, Poderes & Saberes, que te fizeram perder a cabeça.
É preciso que a nossa comida seja a comida do Cristo Jesus que tinha mais que fazer do que comer à vista da fome das multidões que corriam para Ele, e à vista dos campos à espera dos ceifeiros para colher o fruto das Sementeiras. Não nos isolemos na auto-consolação quando o Povo precisa de quem o console, de quem o liberte das convenções que são prisões nos sítios que são estados de sítio.
Tudo lá está. Tudo, isto é, todos. A Promessa, a Aliança, e os Profetas. Abraão, Moisés e Elias, com os Apóstolos que naquele momento ainda não compreendiam o que acontecia, e depois aconteceu. Sim, era difícil, muito difícil, compreender o valor em Cristo, por Ele e n’Ele, de cada um de nós, começando e acabando nos mais pequenos cuja figura, a verdadeira figura, exigia e implicava a Transfiguração e a nossa plena identificação com o Cristo Jesus.
Agora o sabemos, com o Pentecostes, depois da Inspiração que nos foi dada, tudo se tornou claro, quanto à figura, a real figura que temos, apesar da fraca figura que fazemos… Agora sabemos, pela Fé o sabemos, quanto valemos. Até à Páscoa consumada e ao Pentecostes acontecido, os Apóstolos e com os eles os Discípulos não entendiam, nem a Crucifixão nem a Ressurreição. Para eles a morte de Cristo era impensável, e a Ressurreição inimaginável. Foram dois choques, sopro e contra-sopro: o choque da morte e o choque da ressurreição do Cristo Jesus, qual deles o maior.
Uma das coisas que mais nos choca entre os Católicos portugueses é (ou era?) o grande valor que dão à Quaresma e a pouca (ou nula) importância que dão ao Tríduo Pascal e ao Pentecostes. A inteligência da Fé parece nula entre nós. Ainda não perceberam que, em Cristo, por Ele e com Ele, passámos da Morte à Vida. É o Mistério Pascal unicamente acessível à inteligência da Fé.
A Transfiguração de Cristo revela-nos, antecipadamente, a nossa real figura invisível aos olhos do Mundo que só consegue ver a triste figura com que aparecemos aos olhos de quem não alcança o “Mistério de Cristo, cuja largura e altura, profundidade e densidade, ultrapassam o nosso entendimento”.
Nos dias que correm, em que politicamente (e felizmente) já não temos o poder que tivemos e o lugar que ocupámos no Tabuleiro, um grande número de gente que descolou, e está a descolar, da Igreja, trata-nos como uma simples religião como outra religião qualquer, agora com muito respeito “democrático”, mas sem de facto nos levar a sério.
Este é o momento histórico para nos encontrarmos (ou reencontrarmos) finalmente com Aquilo que somos e fazemos, para ao chegar a hora de o dizermos não nos refugiarmos mais
Ora, o Cristo e Nós n’Ele, por Ele e com Ele, é a chave da História. Que o diga Moisés e Elias, com os Apóstolos. A chave “que abre e ninguém fecha, que fecha e ninguém abre”. A figura que neste momento fazemos não deixa ver a Figura que temos, até porque há muita coisa na Igreja que nos desacredita, isto é, impede que vejam a Graça que há na Una e Santa, a Igreja católica e apostólica. Sim, apesar da síntese que o último Concílio Ecuménico fez num tempo que era de acomodação, muito boa gente altamente colocada tudo faz para nos agravar a triste figura… tentando parecer aos olhos do Mundo com uma simpatia conformada e conformista. O que de facto, entre os Santos, não corresponde à realidade, à real figura da Igreja.
Agradar ao Mundo? Não dá para agradar. Agradar com a Graça e a Verdade, que nos vieram pelo Cristo Jesus, sim. Mas, assim como a luz do Sol só entre nas casas cujas janelas se abrem, também a Graça só entra em quem tem fome e sede de Justiça.