domingo, 14 de março de 2010

HOMILIA, proferida pelo P. Leonel, 2º Domingo da Quaresma 2010, Capela de Fradelos, 28 de Fevereiro

Tudo lá está. Tudo, isto é, todos. A Promessa, a Aliança, e os Profetas. Abraão, Moisés e Elias, com os Apóstolos que naquele momento ainda não compreendiam o que acontecia, e depois aconteceu. Sim, era difícil, muito difícil, compreender o valor em Cristo, por Ele e n’Ele, de cada um de nós, começando e acabando nos mais pequenos cuja figura, a verdadeira figura, exigia e implicava a Transfiguração e a nossa plena identificação com o Cristo Jesus.

Agora o sabemos, com o Pentecostes, depois da Inspiração que nos foi dada, tudo se tornou claro, quanto à figura, a real figura que temos, apesar da fraca figura que fazemos… Agora sabemos, pela Fé o sabemos, quanto valemos. Até à Páscoa consumada e ao Pentecostes acontecido, os Apóstolos e com os eles os Discípulos não entendiam, nem a Crucifixão nem a Ressurreição. Para eles a morte de Cristo era impensável, e a Ressurreição inimaginável. Foram dois choques, sopro e contra-sopro: o choque da morte e o choque da ressurreição do Cristo Jesus, qual deles o maior.


Uma das coisas que mais nos choca entre os Católicos portugueses é (ou era?) o grande valor que dão à Quaresma e a pouca (ou nula) importância que dão ao Tríduo Pascal e ao Pentecostes. A inteligência da Fé parece nula entre nós. Ainda não perceberam que, em Cristo, por Ele e com Ele, passámos da Morte à Vida. É o Mistério Pascal unicamente acessível à inteligência da Fé.


A Transfiguração de Cristo revela-nos, antecipadamente, a nossa real figura invisível aos olhos do Mundo que só consegue ver a triste figura com que aparecemos aos olhos de quem não alcança o “Mistério de Cristo, cuja largura e altura, profundidade e densidade, ultrapassam o nosso entendimento”.


Nos dias que correm, em que politicamente (e felizmente) já não temos o poder que tivemos e o lugar que ocupámos no Tabuleiro, um grande número de gente que descolou, e está a descolar, da Igreja, trata-nos como uma simples religião como outra religião qualquer, agora com muito respeito “democrático”, mas sem de facto nos levar a sério.


Este é o momento histórico para nos encontrarmos (ou reencontrarmos) finalmente com Aquilo que somos e fazemos, para ao chegar a hora de o dizermos não nos refugiarmos mais em subterfúgios. Não fomos postos no Mundo para agradar ao Mundo, mas para salvar, transformar o Mundo. Já passámos por situações parecidas, quando nos primeiros séculos avançámos no meio de uma enxurrada de religiões qual delas a mais bizarra. As gentes enganam a fome e a sede com qualquer coisa…


Ora, o Cristo e Nós n’Ele, por Ele e com Ele, é a chave da História. Que o diga Moisés e Elias, com os Apóstolos. A chave “que abre e ninguém fecha, que fecha e ninguém abre”. A figura que neste momento fazemos não deixa ver a Figura que temos, até porque há muita coisa na Igreja que nos desacredita, isto é, impede que vejam a Graça que há na Una e Santa, a Igreja católica e apostólica. Sim, apesar da síntese que o último Concílio Ecuménico fez num tempo que era de acomodação, muito boa gente altamente colocada tudo faz para nos agravar a triste figura… tentando parecer aos olhos do Mundo com uma simpatia conformada e conformista. O que de facto, entre os Santos, não corresponde à realidade, à real figura da Igreja.


Agradar ao Mundo? Não dá para agradar. Agradar com a Graça e a Verdade, que nos vieram pelo Cristo Jesus, sim. Mas, assim como a luz do Sol só entre nas casas cujas janelas se abrem, também a Graça só entra em quem tem fome e sede de Justiça.

Sem comentários: