domingo, 14 de fevereiro de 2010

República 2010

Após 100 anos de República em Portugal, o País progrediu muito em matéria de desenvolvimento económico e social.
Com golpes de baioneta, este País recebeu os fundamentos matriciais da contemporaneidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Com a Constituição de 1822, Portugal consagrou os fundamentos do direito político e desenhou juridicamente a democracia.
No mapa cor-de-rosa (Ultimatum Inglês) da nossa impotência iniciou-se a revolta que implementou o novo regime, que agora faz cem anos e marcou a história a ferro e fogo, na dor e na angústia de um Portugal melhor.
Agora que o poder já não é hereditário e o Império se foi, onde as instituições da organização administrativa política, militar e judicial, saídas da “renovação dos votos” em 1974 (apesar das vicissitudes), para uma democracia sólida ao nível da liberdade, torna-se fundamental para a realização do projecto Republicano, que este povo reivindique a Igualdade e a Fraternidade, ciclicamente roubadas por crises ondulatórias ao serviço de interesses mais ou menos obscuros da ganhunça.

Não defendo para o projecto Republicano e Socialista qualquer tipo de puritanismo e não embarco nas tretas de quem não trabalha não come.
Aceito com naturalidade contribuir com os meus impostos para os rendimentos de solidariedade, para os subsídios de desemprego e para os fundos de pensão.
Orgulho-me da igualdade de oportunidade na educação, mas não entendo a escolaridade obrigatória do Estado.
Na saúde é louvável o esforço para chegar a todos e onde a conjugação entre privado e público alarga a solução.
No trabalho lamento a degradação dos direitos e a desumanização de custos elevadíssimos ao nível da saúde mental e da qualidade de vida dos trabalhadores.
Na justiça, um dos pilares fundamentais da nossa democracia, confundiram-se os valores com a inversão das prioridades, valorizaram-se excessivamente as questões processuais, e burocratizou-se até à paralisia, verdadeiro nó górdio.
Na segurança instalou-se o medo da acção inoperante (para quê correr riscos se depois a justiça não os condena).
Na política perdeu-se o sonho e na cidadania reina o desencanto.

É evidente que a culpa ultima cai sempre na liderança politica do momento, mas todos sabemos que as causas são mais profundas e largas.
Os sinais de desorientação da nossa República Democrática são muitos e visíveis, e o mais recente é a aliança contra natura de todos os partidos da oposição parlamentar em torno de uma questão menor.
O tempo pede coragem e sacrifício é verdade, mas também é verdade que o campo onde se faz e a quem continuamente se pede o maior esforço está esgotado.
A antiga classe média (comercio, serviços e pequena industria) muitas vezes designada burguesia está exaurida, e a nova classe média burguesa (médicos, professores, juízes, militares e quadros de empresas de capital publico) que vive na dependência do Estado afirma-se de forma continuada, intransigente e reivindicativa.
Parece-me inteiramente legítimo e justo que se tomem medidas como por exemplo, a imposição de um tecto salarial.
Se é obsceno que a banca apresente lucros desmedidos, não é menos obsceno que se paguem ordenados e pensões de reforma superiores ao ordenado do Presidente da Republica.
Apesar de tudo VIVA A REPÚBLICA.


António Espojeira

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